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Nas últimas décadas, diferentes campos disciplinares têm passado por uma profunda reorganização motivada, por um lado, pelo agravamento da crise climática e ambiental, e, por outro, pelas reivindicações dos movimentos anticoloniais e antirracistas em todo mundo. No contexto latino-americano, em particular, o crescente protagonismo dos povos indígenas, quilombolas e demais comunidades tradicionais na arena política, bem como na esfera académica, configuram um fator decisivo em vista de novas abordagens da questão socioambiental. Diante deste cenário, as chamadas Humanidades Ambientais, ao congregarem estudos da literatura, cinema, filosofia, história, antropologia, arqueologia e ecologia, entre outros, demonstram a relevância de diferentes abordagens acerca da complexa relação entre humanos e não-humanos. No centro destes debates, as plantas emergiram, paulatinamente, como seres não só biológicos, mas também históricos, sociais e políticos, com o potencial de subverter noções arreigadas sobre agência, inteligência, modos de estar no mundo, e, no limite, as próprias fronteiras que delimitam o conceito de humanidade. Ao mesmo tempo, do ponto de vista disciplinar, os estudos sobre as plantas questionam fronteiras disciplinares e o processo histórico de especialização científica, predicado na oposição entre as ciências naturais e as ciências humanas e sociais.

Deriva deste quadro a proposta de discutir o conceito de “Humanidades Vegetais” a partir de uma perspetiva interdisciplinar e no contexto mais alargado do crescimento exponencial das Humanidades Ambientais na última década. A Amazónia, uma região conhecida pela sua sociobiodiversidade e na qual as plantas têm um papel fulcral na cosmovisão dos povos indígenas, quilombolas e ribeirinhos, constitui o ponto de partida para uma reflexão multiespecífica sobre as plantas. Procuraremos estabelecer um diálogo com a ontologia relacional dos povos amazónicos, para os quais muitas plantas são seres que, tal como os humanos, têm os seus pontos de vista específicos. Como se configuram as interações entre plantas, seres humanos e outras entidades na bacia amazónica? Quais as contribuições do pensamento amazónico para as Humanidades Ambientais? Que imagens (alternativas) de humanidade revelam as plantas? Estas são algumas das perguntas que servirão de mote ao colóquio.

 

13-14 de Outubro de 2022

Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra
Sala 1, CES Alta

Presencial / Streaming Online
Link zoom: https://us02web.zoom.us/j/81600117164?pwd=t0IgVbHJxCidN3IAUlG40aeUNN8OWg.1
ID da reunião: 816 0011 7164
Senha de acesso: 428225

 

PROGRAMA

Nota: As horas indicadas referem-se ao horário de Portugal continental.


13 de Outubro

14h-14h15: Abertura do Colóquio
António Sousa Ribeiro (Diretor do Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra)
Patrícia Vieira (Investigadora Sénior, Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra)


14h15-16h15: Sessão 1

Agricultura de brincadeira das baixas terras da América do Sul?
Manuela Carneiro da Cunha (Universidade de São Paulo, Universidade de Chicago)

Una metodología para la lectura territorial a través de los vestigios de la inscripción humana en la naturaleza
Esperanza Martinez (Oficina de Derechos de la Naturaleza – Acción Ecológica)

Los cantos: una forma de relacionarse con el bosque y con la memoria histórica amazónica desde la cultura Shiwiar
Rosa Elvira Gualinga Chuji (Líder indígena Shiwiar – Saramanta Warmikuna)

Moderado por Karen Shiratori (Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra)


16h30-18h30: Sessão 2

O olhar colonial sobre a vegetação amazônica: estranhamento, seletividade e utilitarismo
José Augusto Pádua (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

Eco-colonialismo ganadero em los trópicos del Nuevo Mundo: entrando en el nuevo Pyroceno y Eremoceno
Susanna Hecht (Universidade da Califórnia, Los Angeles)

Narrativas y relacionamientos con el bosque amazónico desde la perspectiva Kichwa
Zoila Castillo Tuti (Líder amazónica Kichwa – Saramanta Wuarmikuna)

Moderado por Elena Gálvez (Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra)


19h: Filme

Nūhū Yãg Mū Yõg Hãm: Essa Terra é Nossa! (Isael Maxakali, Sueli Maxakali, Carolina Canguçu, Roberto Romero, 2020, Brasil, 71’)
Apresentado por Roberto Romero (Universidade Federal de Minas Gerais)

Moderado por Raphael Uchôa (Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra)

 

14 de Outubro


14h-16h: Sessão 3

“Saudades das árvores compridas”: retomar a terra e a vida com os Tikmū’ūn- Maxakali.
Roberto Romero (Universidade Federal de Minas Gerais)

O agrocídio e o planeta-pipoca: Pensando com Colheita Maldita, de Denilson Baniwa
Jamille Dias Pinheiro (Universidade de Londres)

Plantas que sanan, plantas que cantan. Propuesta artística de intervención audiovisual y sonora a partir de la experiencia y conocimientos del pueblo Shipibo-Konibo-Xetebo
Néstor Paiva Pinedo (Comando Matico, TAFA, Asociación RAO-Medicine)

Moderado por Emanuele Fabiano (Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra)


16h30-18h30: Sessão 4

Como a Amazônia foi formada pelos povos da floresta
Eduardo Góes Neves (Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo)

Plantas em narrativas cosmogônicas amazônicas
Lúcia Sá (Universidade de Manchester)

Sistema de conhecimento-prático dos povos indígenas do noroeste amazônico
João Paulo Tukano (Universidade Federal do Amazonas)

Moderado por Maria Esther Maciel (Universidade de Campinas e Universidade Federal de Minas Gerais)


18h30-18h45: Encerramento do Colóquio